segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Pesquisas recentes demonstram ineficácia da tração no tratamento da hérnia de disco lombar.

A tração lombar realizada por mesa de tração eletrônica tem, a princípio, o objetivo de tratar as hérnias discais. Esta técnica ficou famosa nos anos 70 e 80 e ainda hoje é bastante utilizada. Supostamente, a técnica tem o objetivo de aumentar os espaços foraminais ou do canal vertebral reduzindo a herniação, ou seja, fazer com que a hérnia retorne para dentro do núcleo do disco, deixando de pressionar raízes nervosas e medula. Porém, estudos recentes demonstram que seu efeito é apenas momentâneo.

Cochrane Collaboration, importante e conceituada entidade internacional que recebe colaboração de instituições cientificas da área da saúde de mais de 100 países, publicou uma revisão da literatura com 25 estudos e mais de 2000 pacientes, onde constatou-se a ineficiência da técnica de tração lombar realizada por equipamentos para portadores de com dor ciática, dor lombar aguda, sub aguda ou crônica. 
Os resultados dos estudos disponíveis que envolvem grupos misturados de pacientes agudos, sub-agudos e crônicos com a dor lombar com e sem a ciática eram completamente consistentes, indicando que a tração contínua ou intermitente como um único tratamento para a dor lombar não é provavelmente eficaz para este grupo. A tração para pacientes com ciática também não pode ser considerada eficaz tampouco, devido aos resultados incompatíveis e aos problemas metodológicos na maioria dos estudos.
A técnica milagrosa para as lombalgias, principalmente as crônicas ainda não existe. Muita gente vende esta idéia e acaba frustando seu paciente, pois na maioria dos casos,  a melhora é momentânea com as dores retornando após algumas horas ou dias. O tratamento dos problemas lombares é complexo e exige uma abordagem com técnicas variadas e especificas para cada caso. A aquisição de bons hábitos de vida e posturas adequadas  tem fundamental participação no sucesso do tratamento das lombalgias.

Na figura abaixo, a ilustração da técnica de tração lombar com máquina de tração:




domingo, 11 de novembro de 2012

FASCIA TÓRACO LOMBAR E ESTABILIZAÇÃO LOMBAR

Cerca de 70 a 80% da população dos países industrializados já apresentou algum tipo de dor lombar pelo menos uma vez na vida. Vários fatores podem predispor o individuo as dores lombares. Atividades físicas mal orientadas assim como posturas inadequadas no lar ou no trabalho que incluem flexão de tronco ou manutenção de posturas únicas são as maiores causadoras dos incômodos lombares.
A prevalência da dor lombar aumenta após os 25 anos de vida, com um pico na faixa etária entre 50 a 60 anos. Homens e mulheres são afetados de forma semelhante.
A região lombar é responsável pela acomodação de cargas provenientes do peso corporal e forças externas aplicadas sobre suas estruturas. É uma região que deve ser ao mesmo tempo forte e rígida para realizar adequadamente suas funções. Para isto, existem mecânismos que garantem a manutenção do alinhamento das vértebras. Quando estes mecanismos entram em desequilibrio, ocorre a instabilidade, que sobrecarrega as estruturas locais, originando a dor.
A fáscia tóraco lombar (FTL) é uma forma de invólucro aponeurótico, forte e complexo, que atua como um imenso ligamento conectando as costelas, vértebras e sacro. Envolve os músculos da coluna lombar, formando três compartimentos: anterior, médio e posterior.  Mantem conexão principalmente com o oblíquo interno,  externo, grande dorsal, quadrado lombar, transverso abdominal e glúteo máximo.  Sua camada posterior envolve os músculos posteriores da coluna da região sacral até a fáscia nucal. A FTL é uma estrutura passiva, que devido à sua conexão com os diversos grupos musculares, comporta a função de suporte mecânico e participa dinamicamente no mecanismo de estabilização lombar.



A fascia tóraco lombar é capaz de promover um suporte passivo suficiente para diminuir em até 55% o stress sobre a coluna lombar durante a flexão de tronco. Durante a realização de movimentos ela exerce manutenção do alinhamento do tronco. Na rotação de tronco, realiza a distribuição de forças entre a coluna, pelve e pernas, proporcionando estabilidade para a região lombar baixa.
Em um estudo realizado por Bednar et al (1995) comprovou-se a existência de focos de calcificação e pré-calcificação em amostras de fáscias de cadáveres, com história de dor lombar mecânica crônica. Essas amostras também apresentaram hipertrofia multilâminar. Diante das anormalidades patoanatômicas encontradas, confirmou-se a importância da FTL como componente ativo na coluna lombar.
No sistema ativo, FTL age indiretamente pela ação dos músculos que a tencionam, por estarem diretamente conectados a ela, são eles: grande dorsal, transverso abdominal, obliquo interno, obliquo externo, glúteo máximo e quadrado lombar.
A FTL também atua no sistema neural por possuir papel proprioceptivo na prevenção de lesões controlando o deslocamento e posicionamento vertebral.
O tônus fasciaL é regulado pelo sistema nervoso autônomo. O pH corporal desempenha um importante papel na tensão fascial, já que um pH muito alcalino cria vasoconstrição e um tônus muscular aumentado. O pH corporal pode ser influenciado por um aumento nos níveis de stress, pois este é responsável pelas alterações na respiração, causando alterações no CO2 expirado. Técnicas como meditação e relaxamento podem ajudar o individuo a respirar de forma adequada e controlar o stress. Para atletas, é fundamental saber administrar o stress durante os treinos e antes das competições. O PH corporal adequado previne lesões e melhora o rendimento.
No sistema passivo a lâmina profunda da camada posterior apresenta importante papel ligamentar na resistência a flexão. Devido ao importante papel da FTL no mecanismo de estabilização lombar, o homem tem a capacidade única de elevar objetos pesados acima da cabeça e de estabilizar o tronco para lançá-los em alta velocidade. A capacidade estabilizadora segmentar da FTL ocorre devido a sua íntima ligação com os músculos lombares.
O transverso abdominal está inserido na FTL fornece estabilidade a toda coluna lombar e tem papel importante na estabilização segmentar de rotação e translação do tronco. Este mecanismo ocorre devido a elevação da pressão intra-abdominal e tensionamento da FTL. Estudos mostram que o transverso abdominal é contraído antes da perturbação do tronco ou movimento rápido e multidirecional dos membros. Uma ativação atrasada desses músculos determina falha na estabilização, este fato está relacionado a  pacientes com lombalgia crônica.


 O músculo glúteo máximo age em conjunto com a FTL para iniciar o movimento de extensão da coluna, partindo de uma posição completamente fletida.
O músculo grande dorsal apresenta ação, via tensão da camada posterior da FTL.Devido a esta conexão há uma melhora do mecanismo de alinhamento lombopélivico.
Apesar de todas as comprovações é importante salientar que a atuação da FTL é complementar no mecanismo de estabilização lombar, pois por ser uma estrutura passiva não apresenta suporte mecânico isolado suficiente para estabilizar a coluna quando forças externas são aplicadas.
A FTL participa do mecanismo de estabilização lombar em situações dinâmicas, porém não deve ser superestimada. Uma estabilização adequada depende do sinergismo entre os mecanismos passivo, ativo e neural. Logo, a reabilitação de pacientes lombálgicos deve se basear em atividades que aprimorem a função de cada um dos componentes deste complexo mecanismo de estabilização.


RERERÊNCIAS:

Schleip R, Klinger W, Lehmann-Horn F. Fascia is able to contract in a smooth muscle-like manner and therby influence musculoskeletal mechanics, 2006. 


Craig Liebenson. Journal of Bodywork and Movement Therapies (2004) 8, 43–45

BISSCHOP, Pierre. Instabilidade Lombar : Implicações para o Fisioterapeuta. Revista Terapia Manual. –Vol I, Nº 4 - abril/junho.

COX, James M. Dor Lombar: Mecanismo, diagnostico e tratamento. 6ª ed. Manole: São Paulo, 2002.

COX, JM. Reabilitação do paciente com Dor Lombar. In: Cox JM. Dor lombar: Mecanismos, diagnóstico e tratamento. 6ºed. São Paulo: Monole, 2002.